Última atualização em 14 de Novembro de 2024 às 11:24
Vamos falar de preservação e acesso!
No passado dia 7 de novembro de 2024, realizou-se o Encontro Novos Caminhos para a Preservação e o Acesso à Informação, organizado conjuntamente pelo Arquivo.pt e pelo Arquivo de Ciência e Tecnologia, o primeiro situado na Avenida do Brasil e o segundo na Avenida D. Carlos I, em Lisboa, ambos serviços da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
O objetivo desta equipa conjunta da FCT foi precisamente provocar o encontro e a partilha de experiências entre diversas instituições que têm inevitavelmente de gerir informação, quer em formatos tradicionais como o papel, quer em formatos digitais.
O encontro teve 243 participantes e 29 oradores. Nove das 27 apresentações foram submetidas para uma a sessão denominada “Espaço comunidade”.
A sessão de encerramento teve a intervenção de Maria Inácia Rezola, Comissária Executiva da Estrutura de Missão para as Comemorações do 50º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974.
A BAD – Associação de Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação e Documentação, deu um contributo importante na divulgação do evento pela comunidade e marcou presença com um stand informativo.
Um dia internacional dedicado à preservação digital
Neste dia, celebrou-se o Dia Mundial da Preservação Digital, uma iniciativa do Digital Preservation Coalition (DPC) a que o Arquivo.pt se associou desde a primeira edição em 2017. Jane Winters, Presidente do DPC, enviou uma mensagem vídeo para associar-se a esta iniciativa em Portugal.
A informação digital foi o fio condutor das intervenções. Na abertura, o Diretor da Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Silvestre Lacerda, lembrou que a DGLAB foi pioneira entre as entidades públicas na abordagem à questão da preservação digital. O vice-presidente da FCT, Francisco Santos, sublinhou o valor económico que representam os dados para a investigação científica.
Preservação digital não se trata apenas de tecnologia, como referiu Henrique São Mamede, Professor da Universidade Aberta, INESC TEC na conferência de abertura. Trata-se também das pessoas, do fator humano, do ambiente exterior às organizações e das novas sensibilidades, como a sustentabilidade e a ecologia. Daí a importância de criar pontes, de usar por exemplo, a Inteligência Artificial articulando-a com a ética.
Ao longo do dia, quatro painéis agregaram apresentações sobre diversos contextos da preservação tais como a digitalização de som, imagem e vídeo, dados de investigação, quadros normativos, sistemas de gestão de informação digitalizada ou nascida digital, divulgação e acesso, uso na investigação académica.
Imagem e montagem: Leonor Arrimar (FCT)
Painel 1: Iniciativas e realidades de preservação digital
O primeiro painel foi moderado por João Gomes, Diretor de Serviços Avançados da FCT, e trouxe para a mesa a diversidade de contextos em que se coloca a questão da preservação e do acesso. Destaca-se, aqui, um aspeto de cada apresentação e deixa-se o convite para seguir as ligações e conhecer melhor essas iniciativas.
Moisés Rockemback, Professor da Universidade de Coimbra e co-autor do livro Arquivamento da web e preservação digital, falou das primeiras iniciativas realizadas no Brasil para preservar conteúdos publicados na Web. Os websites dos candaditatos às eleições brasileiras, por exemplo, são por natureza efémeros mas tornaram-se material para a pesquisa historiográfica ao serem preservados num arquivo da Web. Numa perspetiva mais teórica abordou a questão da memória. A preservação da web permite-nos trazer à luz acontecimentos que foram veiculados unicamente em meios digitais como a Web e, nesse sentido, adia o fim da História expresso na metáfora da “Dark Age”, tempo da escuridão, vazio de informação.
Pedro Penteado, Diretor de Serviços de Arquivística e Normalização, apresentou um conjunto de instrumentos que a DGLAB tem desenvolvido, como por exemplo a Macro Estrutura Funcional (MEF), o projeto Avaliação Suprainstitucional da Informação Arquivística (ASIA) e ainda a Lista Consolidada na Plataforma CLAV, que permite às diferentes entidades da Administração Pública cumprir a legislação e normalizar práticas de classificação e avaliação. Recordou que estes intrumentos são flexíveis para atender às especificidades das organizações.
Pedro Príncipe, Chefe da Divisão de Serviços de Documentação da Universidade do Minho, abordou os dados de investigação. A preservação e o acesso aos dados é fundamental para a produção de ciência. Para isso é necessário conjugar iniciativas e trabalhar em rede e criar comunidades de prática. O Fórum GDI é um exemplo de que o encontro entre profissionais é útil. A certificação é altamente recomendável, como o tem demonstrado a Universidade do Minho que certificou o seu repositório, pois é um motivo extra para criar robustez e para atingir os objetivos FAIR (Findable, Acessible, Interoperable, and Reusable).
Hilário Lopes, Diretor adjunto das Relações Institucionais e Arquivo da RTP, descreveu o caminho para o digital que mudou completamente a forma de acesso ao Arquivo da RTP. Se até de 2001 a digitalização se fazia a pedido, a partir desse ano os conteúdos foram massivamente digitalizados. Desde 2007, os conteúdos são acessíveis em formato digital, o que facilitou o acesso e o uso. A RTP Memória e o Portal RTP são dois exemplos de acesso ao património audiovisual da rádio e televisão pública.
Painel 2: Preservar e reutilizar a informação da Web
O tema do arquivo da Web esteve em destaque no segundo painel, moderado por Daniel Gomes, Gestor do Arquivo.pt e seu iniciador em 8 de de novembro de 2007.
Ricardo Basílio, curador digital do Arquivo.pt, apresentou a exposição online “Memórias do 25 de Abril na Internet, realizada em colaboração com a Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, com base em páginas web preservadas. Destacou páginas sobre as comemorações do 25 de Abril em todo o país atrvés de uma visita guiada à exposição.
Joana Paulino, historiadora e investigadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mostrou como as tecnologias contribuem para o desenvolvimento de estudos em áreas tradicionalmente afastadas das tecnologias, a partir da sua experiência no Laboratório de Humanidades Digitais.
António Campos e Hélder Mestre, do Arquivo da Câmara Municipal de Sines, mostraram como, desde 2020, preservam conteúdos da Web de interesse local em colaboração com o Arquivo.pt. Gravam páginas Web com o ArchiveWeb.page, ferramenta do Webrecorder, enviam uma cópia dos ficheiros para o Arquivo.pt, fazem transcrição textual de imagens e vídeos, e usam também o PDF como formato mais tradicional para arquivar notícias. A questão da acessibilidade aos conteúdos para pessoas com necessidades especiais é fundamental no processo de preservação.
António Ramiro e Carmen Fonseca, vencedores do Prémio Arquivo.pt 2024, apresentaram o seu trabalho Noticioso.pt. É um projeto que reutiliza a informação do Arquivo.pt para desafiar a capacidade crítica dos cidadãos.
Para finalizar, Daniel Gomes, destacou o muito que foi feito nos últimos 17 anos no domínio da preservação da Web, a ponto de termos atualmente um serviço funcional que toda a gente pode usar. Fomos encontrar, como testemunho desses primeiros tempos, uma página do Diário Digital, de novembro de 2006.
Painel 3: Preservar a atualidade e salvaguardar o futuro
O terceiro painel foi moderado por Paula Meireles, Coordenadora do serviço Arquivo, Documentação e Informação
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e trouxe à mesa outras quatro realidades.Filipe Guimarães Silva, Diretor Executivo da Fundação Mário Soares e Maria Barroso e António Coelho, Coordenador de reprodução digital, aprofundaram as questões técnicas relacionadas com a digitalização, a partir do caso do acervo, que também está acessível no portal Casa Comum. O controlo de qualidade é o fator mais importante para obter uma versão digital preservável. Nem sempre são necessárias tecnologias caras para obter bons resultados. É fundamental seguir os standards e cuidar para que sejam gerados metadados de qualidade.
Fernanda Gonçalves, Diretora do Arquivo da Unidade Local de Saúde São João, mostrou como o Repositório Clínico Digital São João está a transformar o acesso aos processos clínicos com vantagens tanto na rapidez como na qualidade da informação. O modelo de gestão da informação nesta enorme instituição traz imensos desafios para a preservação e o acesso continuado, pois trata-se criar interoperabilidade entre múltiplos sistemas. Acresce que se tratam de dados sensíveis com diferentes níveis de acesso. É aqui que surge o arquivo como uma mais valia. O serviço de arquivo deve estar à altura dos desafios em qualquer organização para servir todos os seus “clientes”.
Augusto Ribeiro, responsável pelo Serviço de Gestão da Documentação e Informação na UPdigital, Universidade do Porto, explicou como está ser feita a preservação do acervo universitário. Desde o tratamento dos documentos em papel, à sua digitalização e à inserção no repositório digital, é importante garantir a robustez. Este trabalho tem sido progressivo e sistemático, ou seja, segue um plano onde todas as peças se encaixam, à medida que o trabalho é desenvolvido.
Pedro Penteado (DGLAB) apresentou o projeto “Guía de Preservación Digital” que está a ser desenvolvido em colaboração com a Asociación Latinoamericana de Archivos (ALA). Esta iniciativa vai estruturar conteúdos sobre a preservação digital de forma pragmática. Em breve, os profissionais terão à mão uma base de conhecimento para consultar, sempre que desenvolverem atividades de preservação digital.
Painel 4: Espaço comunidade
O quarto painel, moderado por Paula Carvalho, do Arquivo de Ciência e Tecnologia da FCT, incluiu 9 apresentações breves submetidas pela comunidade. Em seguida, apresentamos os resumos enviados pelos autores:
- Justiça do Futuro: + Digital – Alexandra Lourenço, Albertina Catrola, Alexandra Henriques, António Dias, Cristina Ferreira, Inês Nunes, Rute Ramos | SGMJ
- PARA SEMPRE: preservar a memória digital da arte portuguesa contemporânea na web – Rita Cêpa | IHA-NOVA FCSH/IN2PAST
- Arquivo Audiovisual da Universidade Aberta: Preservar e disponibilizar o acervo para todos – Madalena Carvalho | Universidade Aberta
- CitationSaver preserva citações para conteúdos online – Pedro Gomes | FCCN/FCT
- Entre a Memória e o Esquecimento: Desafios na preservação digital de movimentos sociais – João Pedro Oliveira | NOVA-FCSH
- Um Arquivo Digital na FCT – os primeiros passos – Suzana Oliveira, Paula Meireles | Fundação para a Ciência e a Tecnologia
- Ciência 74/24 – Série multimédia sobre a evolução da ciência em 50 anos de democracia – Pedro Cavaco Horta, Susana Torrão | NOVA FCSH
- Sistemas de gestão documental legados: Migrar para preservar – Paula Fernandes, Cláudia Pinto | Banco de Portugal
- O desafio da preservação digital na justiça – Cristina Soares | Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça-MJ
Celebrando os 50 anos do 25 de Abril na sessão de encerramento
Maria Inácia Rezola, Comissária Executiva da Estrutura de Missão para as Comemorações do 50º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974, apresentou uma perspetiva histórica do impacto do 25 de Abril na sociedade portuguesa, nomeadamente através da forma como este é comemorado por todo o país.
Deu a conhecer o trabalho que a Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril tem realizado para identificar arquivos, centros de documentação e acervos das mais variadas espécies com material acerca do 25 de Abril. Há acervos públicos praticamente desconhecidos, outros que se encontram-se em acervos privados. A inventariação e a divulgação é, portanto, o primeiro passo para promover o estudo e o conhecimento sobre o 25 de Abril.
Para terminar, Maria Inácia Rezola, anunciou a atribuição da Menção Honrosa “O 25 de Abril e a Democracia”, juntamente com um prémio de 5.000 euros, na edição Prémio Arquivo.pt 2025, ao melhor trabalho sobre o 25 de Abril que utilize o Arquivo.pt.
Galeria de imagens
Encontro Dia Mundial da Preservação Digital 2024 #WDPD2024
Créditos: fotografias por Leonor Arrimar (FCT). Incluídas algumas imagens de dispositivos móveis enviadas por participantes.
Saber mais
- Página oficial do evento (site da FCT, Arquivo de Ciência e Tecnologia)
- Programa do encontro
- FCT promove Encontro Novos caminhos para a Preservação e o Acesso à Informação (Notícia no site da FCT)